quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

Desse jeito

ENFIM
Talvez se um dia resolveres mudar
Não mais estarei a te esperar
Pois, desde hoje, só o pesar
Me faz lembrar você

POR QUE
Quiçá não por pura escolha tua
Minh’alma, hoje nua
Em qualquer esquina, em qualquer rua
Está despida de tua dura presença

ASSIM
Mesmo que teus problemas tenhas resolvido
De mim só terás o ombro amigo
Meu coração não mais será abrigo
Do teu instável viver

quarta-feira, 25 de novembro de 2009

Experimentar é viver

(Para Cláudia)

Quando optou por gastronomia, sabia que seu pai se oporia. Não adiantava nem lutar. Em silêncio, arrumou as malas, viu sua mãe chorar, e saiu de casa.
A imagem que guardara dele fora a de sua nuca falhada de cabelos brancos, que se movia a cada tragada que dava no cigarro enquanto ela se despedia dos outros membros da família. Mãe e irmã a acompanharam até a rodoviária. Foi difícil ir embora sem abraçá-lo, mas ele preferiu assim.
Chegou em São Paulo pela manhã do dia seguinte. Fazia sol e o trânsito era caótico. De início ela se assustou com a velocidade daquele lugar, mas sabia que em uma semana se acostumaria, afinal sempre gostou de novidades.
Os dois anos de curso passaram voando. E durante eles, poucas as vezes em que falou com o pai, em aniversários apenas. Ela se esforçou para mostrá-lo como essa profissão era reconhecida, mas ele não dava a chance nem de ouvi-la. A filha mais velha era formada em medicina.
No dia de sua formatura, a família foi pra São Paulo encontrá-la. O pai permaneceu em Minas. Ela sentiu. Ele também.
Mais dois anos se passaram. Ela se tornara chef de uma requintada cantina italiana, no Bexiga.
Sua mãe não tomava partido; feliz com a felicidade da filha, infeliz com a infelicidade do marido. A irmã, não saía mais de São Paulo. Todo final de semana que podia, lá ía ela ao encontro da mais que irmã, melhor amiga. Sempre se deram bem, mas agora com a turbulência em casa, se uniram ainda mais.
O emprego estava ótimo e a vida também. Se apaixonara por um rapaz que conhecera durante uma tarde enquanto comprava frutas no CEAGESP. Ele era executivo, ía lá todo sábado, para relaxar. Dizia que o cheiro daquele lugar, era terapêutico. De uns tempos pra cá, passaram a cruzar aquelas portas juntos, cheios de sacolas, direto pra casa dela. Casaram-se em uma cerimônia intimista, com 2 convidados. A irmã dela, e a mãe dele. Preferiram assim.
Em um ano, uma crise os afetou. Ela descobriu que ele era um maníaco. As brigas se tornaram rotina. Ela não podia sair de casa que ele ía atrás. Ciumento possessivo, não a permitia a menor liberdade. Sentia-se prisioneira. Ela não mais o amava... Quis gritar pela ajuda do pai, mas sabia que, agora, precisava caminhar sozinha. Foi atrás de um advogado e dividiu com ele suas aflições. Ele lhe dissera sobre o divórcio, mas que precisava da assinatura do rapaz. Foi um processo um tanto quanto conflituoso. Durante meses ela fez o que pode para conseguir o consentimento do marido, mas ele era contrário. Dizia que essa era uma decisão muito drástica. Que eles se gostavam e precisavam estar juntos. Ele gostava dela. A recíproca, um dia, fora verdadeira.
O advogado a assessorou como pode, até que, finalmente, o divórcio fora concretizado. Seus pais nunca o conheceram. Ela pedira a irmã que guardasse segredo e, todas as vezes em que a mãe vinha visitá-la, o marido estava viajando a negócios. Ela sempre calculou exatamente os períodos para evitar o encontro. Ela não sabia por que, mas achava melhor que a relação fosse mantida em segredo. Quando se divorciou do rapaz, sentiu como se fosse um aviso: 'Ainda bem que não falou nada. Além de cozinheira, agora divorciada... Seria um desgosto muito grande para o pai.'
Andava num período bastante solitário. Perdera o gosto por ir ao CEAGESP, sentia um vazio dentro do peito. Depois dessa fase conturbada, tomou uma decisão...
Escreveu uma carta ao pai contando tudo. Que se casara e se divorciara. Que passou por um período turbulento e que o único que pôde ajudá-la foi o seu advogado. Que era uma cozinheira renomada, mas que andava infeliz. Que sentia falta do seu pai, seu herói. E que decidira, com 30 anos, prestar vestibular para direito.

Hoje, com 42, mora na casa dos pais. Tem um namorado, mas não quer saber de casamentos. Os almoços aos domingos é ela quem prepara, e durante a semana, é a juíza mais respeitada de Minas Gerais.

segunda-feira, 19 de outubro de 2009

O silêncio é um dos argumentos mais difíceis de se rebater (John Billings)

A fala é o alimento da discórdia. Quando se diz tudo que se pensa, perde-se a oportunidade de viver o mistério.
Não é preciso pôr pra fora tudo o que mora na mente para definir inteligência. Intelectual é o que pensa antes de abrir a boca.
Então, por que não pensamos mais do que dizemos?
Aliás, se Deus existe, há um motivo para que Ele nos tenha presenteado com duas orelhas e apenas uma boca. E, ainda, um cérebro de tamanho maior que duas orelhas e uma boca somadas! Ou seja, essa é a conclusão divina para que nos calemos.
Portanto, através de argumentos físicos e teológicos limitamos nossa fala diante da afirmação:

‘O silêncio, SIM, é um dos argumentos mais difíceis de se rebater.’

sexta-feira, 2 de outubro de 2009

A voz do general

Estranho seria se não tomasse alguma providência. Há mais de 80 anos batalhando por um espaço, só agora notou a proporção assombrosa que essa guerra tomava. Rivais em pose de briga continuavam ganhando cada vez mais adeptos às suas causas, enquanto que ele implantava mudanças em vão. Nada do que fazia, alterava, por menos que fosse, essa situação caótica.
Refez seu exército. Recrutou novos combatentes. Reformulou nome, poses, cores. E nada...
Até que um dia, cansado de inovar, passou a olhar pra si. Passou a se permitir ver o que antes não havia notado.
'Mudemos o uniforme; e já!'
E, depois de uma mudança tão singela, prateleiras e geladeiras voltaram a se esvaziar com a mesma rapidez da concorrência.
Por dentro, continua o mesmo. Sua identidade visual é que ganhou mais força.
Seu nome? Ah, seu nome é Pepsi.

terça-feira, 18 de agosto de 2009

A hora

Estava sentindo algo estranho. Talvez estivesse sendo observado, mas só teve certeza disso quando, depois de muito lutar contra seus temores, virou-se pra trás e deu de cara com um muro de concreto.
Natural se fosse um muro comum, daqueles estáticos e sem vida. Estranho foi ver que ele andava, ele tinha vida, ele o seguia. Desesperou-se. Estava sendo seguido por um muro de concreto. Um muro de concreto o seguia!
Coçou os olhos, forçou o vômito. O muro continuava lá, cinco passos atrás dele. Correu. Correu o mais rápido que pôde. Buscava despistá-lo. Entrou em lojas com portas estreitas, saiu pelos fundos. Chegou ao metrô, entrou no primeiro vagão que avistou. Sentou-se aliviado. Olhou em volta, tudo normal. Que susto tomou ao descer do vagão. Lá estava. Alto, duro, forte. O muro sabia que ele desceria ali, e ali o esperava.
O relógio marcava 20h40. O céu chorava lágrimas cansadas e pesadas que em sua cabeça estalavam, mas na do muro derretiam. Aliás, aquele muro tinha trejeitos humanóides. Que estranho. Não sorria, não tinha boca. Mas cabeça e braços e pernas sim. Um muro com vida, mas sem boca. Um pedaço grande de concreto que gritava sem precisar falar. Só seus passos eram ecoados pela cidade toda.
Quando percebeu que o muro não o deixaria, enfezou-se. Com medo, pânico e ódio, correu. Mas correu pro muro, em direção a ele. Chutou-o. Esmurrou-o. Xingou-o. Caiu sentado, afinal era um muro de concreto! Ok, passou a ignorá-lo. Era um muro ué, o que ele poderia fazer a não ser, ser um muro. Em sua casa, deitou-se. O muro em pé, de fronte dele. Deitado, mas sem dormir. Estava intimidado, ainda era observado por uma figura sem visão. Fechou os olhos com força. Pensando terem passado algumas horas, surpreendeu-se ao ver que só o ponteiro dos minutos havia caminhado. Levantou-se. Fez café. Bebeu café. Ofereceu café ao muro, que não manifestou nada. Talvez estivesse se acostumando com aquela figura estranha em sua companhia. Quem dera. Não estava se acostumando coisa nenhuma. Quando saiu novamente à rua, mergulhado em pensamentos, entrou em transe. Ouviu um tilintar em sua cabeça, que saia por seus ouvidos e se transformava num zumbido agudo. Incomodava. Olhou pro muro que se sacolejava. Ele também ouvia o zumbido? Ele também ouvia o zumbido! Mas além disso, o muro sentia o zumbido. Ele não tinha ouvidos, mas ele ouvia e sentia o zumbido.
E foi nessa hora que percebeu que o muro seguia seus instintos. O muro era seus instintos. O muro era ele mesmo! Nunca se vira no espelho em forma de muro. Acontece que no segundo em que essa idéia se aclarou em sua mente, olhou em torno de si, e começou a notar que cada pessoa que circulava pela rua tinha por perto um objeto grande ou pequeno que a seguia. Uma aura, uma sombra, mas ainda assim, elas mesmas. O zumbido que ouvira fora o estopim para essa análise. Analisou. Analisou cada segundo desde o momento que viu o muro pela primeira vez. Mas por que levou 32 anos até vê-lo?

Acontece que cada um leva seu tempo. O muro, a parede, o cristal ou a geléia, existem. Diferentes formas, tamanhos e intensidades. Como anjos da guarda, talvez anjos perversos, nos acompanham. E só notaremos isso tudo, no dia em que algo grave estiver pra acontecer.

Atravessou a rua. Fora atingido por um carro que passou o sinal vermelho. Pego em cheio, não resistiu. E o muro, passou a ser enxergado por um novo alguém.

terça-feira, 28 de julho de 2009

Meu coração é de mãe

(Para Thais)

Caroço de melancia
Sou feliz, pois tenho um sonho
Carrego comigo uma vontade
Rego, cuido e acredito
Que um dia será verdade
Em meu coração ela floresce
Dentro de mim, a alimento
Está chegando a grande hora,
O esperado e grande momento
O caroço que engoli
Dentro de mim, está crescendo
Uma pequena melancia
Está se desenvolvendo

Pé de alface
Um dia minha mãe me disse
'Você veio do pé de alface'
Nunca muito acreditei
Que de verdura criança nasce
O tempo foi passando
E na feira nunca encontrei
Criança alguma que dissesse
'Foi na horta que me criei'
Ainda hoje carrego em mim
Grande e poderoso impasse
Apesar da minha barriga,
Será que a mãe é a alface?

Bico de cegonha
Quando ouço asas baterem
Logo vejo que é a cegonha
Ela me olha tão feliz
Ela me olha tão risonha
Traz consigo uma notícia
Uma grande novidade
Aquilo que era sonho
Logo será realidade
Um grande bico alaranjado
Servirá de transporte aéreo
Trará meu doce presente,
Príncipe Vitor, amor etéreo

sexta-feira, 24 de julho de 2009

Mãe também chora

Pela janela vê-se a tristeza
Chora sem cessar a natureza
Pede ajuda, mas sem resposta
Do homem que tanto mostra
Seu poder, a sua força
Se esquecendo dessa moça
Sua sempre mãe, mãe natureza

sexta-feira, 10 de julho de 2009

Ela

Vivendo num mundo só dela,
Não espera.
Sem parar de buscar,
Não se cansa.
Olhando para dentro,
Vê embaralhadas respostas,
Revidando perguntas,
Ainda nem formuladas.
E no dia seguinte,
Continua.

quinta-feira, 25 de junho de 2009

Carta ao Tim

Já te encontrei de saída,
dando entrada em minha vida, despedida.
Quanta intensidade...
Maturidade de moleque inconseqüente.
E tanta gente diferente
unida em torno de ti.

Te tenho em melodia,
letra, música e energia.
Entusiasmo irracional,
que vem de passional inspiração.
E nunca são...
Mas sempre embriagado de sentimentos.
Tão comum e tão distinto, você pode ser.

Altos tons e timbres graves,
iluminados por longas claves
de sol, de mar, de lua.
Estrela de peso num céu abarrotado.
Admirado.
E tanta gente diferente
unida em torno de Tim.

quarta-feira, 24 de junho de 2009

O HOMEM NU

O homem nu, diante do que mostrava, se intimidou de enxergar o que aos seus olhos saltava. Embaraçado, escondeu-se debaixo de suas mãos.
O homem nu despudorou-se, mas por dentro ainda julga. Despido, continua vestido de preconceitos e idéias pré-concebidas, e vê no outro o que ainda não vê em si.
O homem nu finge. Finge tão bem que chega a se tapear. Simula. Engana.

O homem nu ainda não sabe como se desnudar.

segunda-feira, 15 de junho de 2009

E mesmo lá, ainda sou eu. (Para Carina)

Vontade de partir... Privar-me da rotina dos dias que me seguem para cair de cabeça em um mar de novidades. Enrolar a língua para dizer ‘bom dia’, enquanto os pés descalços tocam o chão novo, e trilham, sem rumo, um caminho incomum. Correr e perceber que não estou mais no mesmo lugar. Abraçar meus pensamentos, e fugir com eles.
Vontade de voar... Esquecer que a liberdade deve, aos poucos, ser conquistada, e conquistá-la toda de uma vez. Perder-me em meio ao que não conheço, para me conhecer mais. Estar longe de tudo, mas mais perto de mim. Mergulhar para dentro, numa viagem que só serei capaz de fazer sozinha.
Vontade de inovar... Desvendar os mistérios do que para mim é obscuro, me inserindo em lugares proibidos, distribuindo sorrisos a estranhos, e descobrindo mais a cada dia. Reinventar o desconhecido a cada abrir de olhos, me alimentando de novidades, e crescendo com elas.
Vontade de sumir... Desvincular-me dos problemas atuais, e criar novos onde eu não saiba o que é certo. Começar do zero em um lugar completamente novo, aprendendo novamente a andar, a ouvir, a falar. Permitir-me reaprender. Fugir da realidade, arquitetando o sonho a cada instante. Submergir num mundo de idéias, e construir, com elas, uma nova história.
Vontade de ter... Gerar novas histórias, me perder e me achar. Ser feliz comigo, para depois ser feliz com o outro. Andar sem direção, sentindo o comando que o coração envia. Ouvir a voz do coração. Sentir a voz do coração. Aguçar minha sensibilidade, e aprender a pensar através do que se sente.
Vontade de querer... Acreditar que as mudanças são sempre positivas, mas que elas devem acontecer de dentro pra fora. Ter certeza de que não basta querer, é preciso viver cada vontade, com força. E tendo sempre consciência de que os sonhos são positivos, mas não podem ser capazes de tirar o nosso chão.
Vontade de viver... Admitir que nada sei, e que o outro pode me ensinar, mesmo que com um simples aceno. Aprender que a idade conserva muitas histórias, mas que o amanhã está longe demais pra ser vivido hoje. Tomar conhecimento de que o passado guarda lembranças, e que as lembranças são a força, e não o impulso. Acreditar que o auto-conhecimento é a melhor forma de tentar conhecer o outro.
Vontade de crer... Ter fé para confiar que nunca estou sozinha, independente do que eu sinta. Acreditar que uma força maior guia meus passos e me permite escolher. Acreditar que o tempo é o senhor de tudo, mas que são essas escolhas que definem a qualidade dele em minha vida. Identificar cada dor como uma dádiva, cada erro como uma benção e cada dúvida como um degrau na escada do conhecimento.
Vontade de ser... Encontrar-me em cada gesto, e aprender a ser eu mesma. Apesar de tanta diferença, me conhecer e me desvendar onde quer que eu esteja. Nutrir minha bagagem de experiências, mas ser sempre Carina, me conhecendo, me respeitando, e acima de tudo, me amando, continuamente mais.

segunda-feira, 8 de junho de 2009

É

Reunião secreta em cada esquina
Brasileira, inglesa, marroquina
Esfiha de carne, queijo parece
O sol à chuva pouco apetece
Todo diferente é tão igual

Se é tarde, cedo acorda
O cego vê, o mudo aborda
Noite vira, o dia passa
Atento esforço aqui fracassa
E constrange o combatente

Rima falsa está sem meta
Palavra curva em linha reta
Poeta vadio não pensa mais
O homem vivo descansa em paz
Mas que monotonia

Pessoas ignoram sentimento
A relação perdeu o envolvimento
O que é curto comprido se mostra
Quer-se aquilo que não se gosta
Não se sabe o que é certo

O feio ficou bonito
Não escuto meu próprio grito
Tudo passa assaz depressa
O chato muito interessa
E não há tempo pra pensar

Preocupações inexistentes
Sorrisos não mostram dentes
Não há mais contato humano
Ninguém mais compõe um plano
Onde vamos parar?

Fraca força, empurra, amansa
Sem se cansar, o homem descansa
Mesmo parado, em movimento
Explode e pulsa o pensamento
Uma corrida incessante

Finda o dia, o sol se esconde
Ladrão ligeiro vira conde
Vitória achega a trapaça
Palavra dura que amordaça
E põe em prova a honestidade

Sinal vermelho não limita
A lucidez está restrita
Pensando pouco, muito eu venço
O que era pouco, está intenso
E se duvida da verdade

Realidade está confusa
Pouco se sabe, muito se usa
O que demora chega logo
Em minha mágoa eu me afogo
Me engasgo e pouco respiro

O medo agora é da claridade
Perdeu-se o foco da responsabilidade
A noção do que é certo está errada
A confiança está sendo mutilada
Cada um por si

Nossas crianças estão crescendo
Nossos valores envelhecendo
É tempo de repensar anseios
Dar razão a devaneios
Antes que o tempo necrose tudo

quinta-feira, 4 de junho de 2009

Surpresa

Sempre sonhou em ganhar uma festa surpresa. Desde os 7 anos, esperava chegar em casa, no dia de seu aniversário, e encontrar amigos e família amontoados no canto da sala gritando inesperados ‘parabéns’. Com 11 anos recém completados, a perua escolar a deixou no portão do prédio e ela correu chamar o elevador para dar de cara com a tal possível festa. Especialmente neste dia de cada ano, o elevador teimava em não se apressar. Demorava longos minutos até que chegasse ao térreo. Ela não se continha. Andava de um lado a outro treinando o discurso que falaria enquanto fingia não saber de nada.
Quando já dentro do elevador, simulava diversos tipos de sorrisos e choros falsos frente ao espelho, para demonstrar toda a sua emoção. De repente um tranco, e a luz se apagou. Não via mais o seu reflexo. Na verdade não via mais nada na escuridão em que se encontrava. E nem sentia o deslocamento do elevador. Ficou presa entre o 4º e o 5º andar. Sabia disso, pois enquanto limpava a caluniosa lágrima do olho esquerdo, o reflexo da luz vermelha apontava o número 4. E foi justamente nessa hora que tudo se apagou.
‘Todos reunidos em minha sala, e eu aqui sem poder fazer nada’ – era esse o único pensamento que habitava a sua mente naquele momento. De dentro do elevador, conseguiu se comunicar com o porteiro dizendo-lhe que estava presa.
Solícito, ele se dispôs a fazer o possível para resolver esse problema. Ansiosa ela dividiu com ele a sua preocupação. Simpático, ele lhe prestou conforto.
Vinte minutos se passaram sem que nada acontecesse. Sentada em um dos quatro cantos do elevador, ela estava consumida por uma grande frustração. Um forte barulho bagunçou seus pensamentos. Ela ouviu, então, a voz de um homem dizendo que dentro de 10 minutos ela estaria fora dali. Passado o período prometido, ela realmente viu um feixe de luz dentro da escuridão. A porta se abriu, e nesse momento, o porteiro, um bombeiro e sua mãe, gritaram num largo coro ‘SURPRESA!’.
Uma lágrima de alívio e satisfação rolou no seu rosto.

segunda-feira, 1 de junho de 2009

Renas

Viver com os pés no chão
Não é viver sem ilusão
É sonhar sonhos possíveis
As coisas simples são incríveis

Felicidade material
É passageira e temporal
Quanto custa um sorriso?
Um abraço é o paraíso

Encare...
Sua vida é um presente
E se ela acontece agora
Por que pensar no amanhã?

Encare...
Sua vida é um presente
E se ela acontece agora
O ontem já passou

O som da brisa mansa
Risada leve de criança
Pés descalços na areia
Histórias de príncipe e sereia

Banho gelado no calor
Sorrir até a boca sentir dor
Ver a lua nascer crescente
Ter em volta gente diferente

Encare...
Sua vida é um presente
E se nada dura pra sempre
Por que pensar no amanhã?

Encare...
Sua vida é um presente
E se nada dura pra sempre
Esqueça o que passou

quinta-feira, 28 de maio de 2009

O Botão Queimado

O que mais lhe chamava a atenção no elevador de seu prédio era que um dos botões, mais precisamente o do 6º andar, tinha um de seus quatro cantos queimado. Eram botões quadrados, com o numeral em metal, envoltos por um cubo de acrílico. E justamente essa parte em acrílico estava queimada. Meio escurecida, levemente derretida...
Se ela morava no prédio, então sentia que o botão também era um pouco seu, e a incomodava vê-lo queimado. Na verdade, ela procurava uma explicação para tal ato de vandalismo. Será que foi puro e simples vandalismo? Talvez tenha sido apenas um acidente. Mas quem andaria com fogo dentro do elevador? Um fumante?
Bom, ela sempre soube que era proibido fumar dentro de elevadores. Talvez por que a fumaça pudesse incomodar os outros passageiros, ou talvez pelo fato de que, caso o fumante ficasse preso por determinado motivo dentro do elevador, ele poderia vir a se sufocar pela fumaça criada por ele mesmo. Complexo. Na verdade, ela sempre pensou que o cigarro era algo bastante complexo. Do tipo de um câncer que vem em caixinha. Por que as pessoas pagavam por isso? Essa era uma discussão que ela sempre tinha com ela mesma, mas que nunca chegava a conclusão alguma. Até mesmo já tentara fumar uma ou outra vez para arriscar entender a graça deste ato, mas não obteve sucesso. Engasgada, desistiu.
Mas o botão lhe intrigava.

domingo, 24 de maio de 2009

Sobrevivendo

Contratos se firmam sem que os olhos se encontrem
Num mundo fugaz as relações se estremecem
O contato se mostra cada vez mais distante
Perante as vistas cansadas
Máquinas se amontoam
Incessantes
Globalização de sentimentos
Tecnologia de aceleração
Corações confinados
Inconformados
Querendo ou não
Mágoas acostumadas
Sobrevivem sem se notar
Sofrimentos se escondem
Para que dentro de alguns
Ainda possam viver

sexta-feira, 22 de maio de 2009

Substituição

Não te troco por ninguém
Eu apenas te rebaixo
Subo ao teu posto outro alguém
Que me consome e me convém

A que tomou seu lugar, acredite,
Não foi por nenhuma maldade
Ocupou-me corpo, mente e coração
E seu nome é conhecido; o seu nome é saudade.

Às vezes chega a doer
Mas ao menos estou acompanhado
Cansei de olhar sem ver
De ouvir o silêncio, de gritar calado

Você continua comigo
Apenas trocou de posto e foi rebaixada
Habita meus olhos e pensamentos
Só desceu um degrau da escada

quinta-feira, 21 de maio de 2009

Vou fugir de casa

Com 5 anos, se enfezou com sua mãe e correu para o quarto arrumar a mochila que lhe acompanharia durante sua fuga. Decidida, não pensava em mais nada além de ‘Vou embora dessa casa’.
Chegava a ser engraçado vê-la, irritadíssima, colocando ursinhos de pelúcia e chinelos cor de rosa dentro de uma mochila da Barbie.
Enquanto sua mãe tomava um banho, ela rapidamente abriu a porta da cozinha, e sem encostá-la de volta, saiu com toda a sua mudança nas costas.
Saindo do banheiro, ainda enrolada na toalha, sua mãe grita seu nome, e sem obter respostas, sai ao seu encontro. No quarto não estava. Na sala não estava. Na lavanderia não estava. Na cozinha não estava. Não podia ser verdade que ela realmente estava levando a sério esta idéia de fugir de casa. Revirada de cabeça para baixo, a casa parecia vazia sem sua presença.
Sua mãe, aos prantos, e ainda de toalha, notou a porta da cozinha entreaberta e o elevador parado em seu andar; abriu a porta dele para que saísse em disparada à procura de sua filha pela vizinhança. Antes que isso acontecesse, a encontrou deitada, com a cabeça apoiada na mochila, dormindo profundamente enquanto o elevador continuava parado em seu andar.

A Gravata

Quando fora fazer sua primeira entrevista de emprego aguardara durante alguns segundos, num enorme saguão, até que algum, dos 8 elevadores, abrisse sua porta enquanto a seta apontada para cima piscava em tom esverdeado.
Quando isso aconteceu, entrou e deu de cara com um enorme espelho. Preocupada em manter sua aparência impecável, nem notou que um senhor de aproximadamente 60 anos entrou logo em seguida dela. Virou-se para apertar o 16º andar e quase deu de cara com uma brilhante gravata azul que se apoiava na enorme barriga daquele homem. Sem graça, pediu desculpas, apertou o 16º e encostou-se a um dos cantos do espaçoso elevador, que mais parecia um salão de festas.
Como o homem engravatado não apertou nenhum outro botão, imaginou que iria para o mesmo andar que ela. ‘Será que era com ele a entrevista?’. Esse questionamento durou alguns segundos, até que novamente reparou em sua gravata. Brilhante e azul. Azul e brilhante. Na verdade, ela não entendia o porquê destas duas características unidas em uma única gravata. Talvez se fosse só azul, ou só brilhante, bastasse. Os dois juntos a incomodavam. O senhor notou que ela olhava fixamente para sua gravata, mas fingiu que não. Ela, hipnotizada, nem percebeu.

sábado, 16 de maio de 2009

Diálogo entre Fortes

Guerras atrás de guerras, corrupção, banditismo... Motivo foi o que não faltou para que Deus tomasse sua decisão.
Deus: Vou acabar com o mundo!
O diabo, através de fontes obscuras e jornalismo ilícito, recebeu essa notícia com espanto e na mesma hora tratou de agendar uma entrevista com o Todo Poderoso.
Às 19hrs do dia 17/06/2006 eles se encontraram num campo neutro para ambos: o Purgatório.
O Diabo bebendo um “Capeta” e Deus “Água Benta” eles iniciaram a conversa.
Diabo: Antes de mais nada gostaria de parabenizá-lo pela sua decisão. O apocalipse proporcionará ao inferno um aumento incrível de nossa população.
Deus: Muito pelo contrário meu caro. Venho, por meio desta decisão, salvar almas perdidas, para que num próximo mundo, este seja mais bem administrado, povoado e cuidado.
Diabo: Como assim? E os meus futuros habitantes irão todos para o céu?!
Deus: Você não tem futuros habitantes. Todos usufruirão de uma segunda chance.
Diabo: Mas e os que já tiveram uma segunda chance em vida?
Deus: Bom, esses irão passar por uma entrevista detalhada, mas, terão sim, uma oportunidade de se hospedar no céu!
Diabo: NÃÃÃÃOO! Você está fora das tuas regras! E os pecadores reincidentes?
Deus: Em busca de um mundo melhor eu vou refazê-lo a partir dos habitantes atuais! Todos passarão por uma reforma moral!
Diabo: Não concordo com só uma palavra do que você está dizendo. Eu também tenho direitos sobre as pessoas. Principalmente sobre os pecadores! Não caia em contradição e permita-me tê-los.
Deus: Até agora você já habitou o inferno de diversos seres humanos! Faça-se por contente! Com o fim do mundo as pessoas irão todas, sem exceção, para o céu.
Diabo: Eu quero pelo menos o Bush, o Bin Laden e o Palocci. Eles terão uma utilidade imensa lá nas Terras Quentes. Diversos dos que já se arrependeram povoam o céu!
Deus: Contente-se com o Hitler que já está no Inferno.
Diabo: Eu sou insaciável. Quero sempre mais. E se eu não tiver os três citados eu me oporei a sua decisão e depositarei todas as minhas forças contra.
Deus: Eu sou mais forte que você e ambos sabemos disso.
Diabo: Porra Deus. Vamos tornar essa nossa conversa amigável! Entremos num acordo. Concorde com as minhas exigências que eu permito que você dê um fim no universo sem intromissão nenhuma!
Deus: Posso ceder-te um desses. Você tem o direito de escolha. Mas apenas um. Não passará disto.
Diabo: EU NÃO QUERO UM! EU QUERO TODOS! EU, NA REALIDADE, GOSTARIA DE OBTER ALÉM DESSES! VOCÊ DEVERIA DAR-SE POR SATISFEITO POR EU APENAS EXIGIR OS TRÊS!
Deus: Aceita um gole de “Água Benta”? Sinto que você está começando a se exaltar. Efeito do álcool que você está ingerindo!
Diabo: Que mané “Água Benta”! Eu quero o Palocci! O Bin Laden! E não satisfeito faço exigência do Bush!


Dias se passaram e essa conversa nunca teve fim. Hoje, dia 08/07/2009, Deus e Diabo mantêm-se em discordância. Tudo que ficou resolvido foi que Deus puniria as pessoas pelos seus atos na Terra e essas iriam para o purgatório para que fossem julgadas. O fim do mundo não se mostra ainda próximo, e só ocorrerá quando céu e o inferno tiverem um acordo. Por enquanto, Palocci, Bin Laden e Bush continuam na terra. Mesmo que essa não seja a vontade do Diabo e nem da maioria dos habitantes do planeta, Deus os mantém vivos até que a morte os pegue de surpresa! Como todos, irão também para o purgatório e terão seu julgamento. (não que tenhamos muita dúvida de seus destinos após a morte, mas são, como qualquer outro ser humano, passíveis de perdão e merecem sua segunda chance). Está nas mãos de Deus!

quinta-feira, 14 de maio de 2009

Vingança

“Eu sei que sou uma pessoa medrosa, sem preparo. Mas tenho meus sentimentos.”
E foi assim que Maíra se despediu de Maurício quando este terminou o longo relacionamento de 16 anos, onde ambos viveram felicidades e angústias, juntos. O motivo pelo qual a relação foi interrompida nunca se soube. Maurício sempre foi um homem vadio, porém seu amor por Maíra era declarado.
Ela saiu de casa às 17 horas do dia 15 de março e voltou ao lar dos pais com trinta e dois anos de idade; ele ficou, afinal de contas o apartamento era posse sua.
Quando se conheceram ela tinha dezesseis e ele trinta. A diferença de idade nunca foi problema para ninguém, muito pelo contrário; os pais de Maíra sempre fizeram muito gosto pela relação, uma vez que diziam sempre que a filha deles era uma moça muito madura pela idade que tinha.
Maíra sempre foi uma moça tímida, covarde. Parou de estudar quando completou o segundo grau, mas nunca deixou de ser orgulho para seus progenitores. Começou a trabalhar quando nova na loja do Seu Elídio, com quinze anos, vendendo roupas. Aos dezoito passou a ter carteira assinada e com dezenove tornou-se gerente da butique. Nunca foi de conversar muito com os clientes, fazia seu trabalho calada, com o olhar perdido.
Maurício casou-se cedo; com vinte anos engravidou uma rapariga de vinte e três e foi obrigado pelos pais da moça a unir-se em matrimônio com ela. A união durou cinco anos mal vividos. Maurício foi embora e nunca mais deu as caras. A criança cresceu sem pai. Ele, na verdade, era um homem boêmio, não queria saber de responsabilidades e sempre viveu da herança do pai que morreu de câncer. Sua mãe nunca lhe deu muita atenção, daí o motivo dele ter saído moço de casa para viver uma vida independente.
Quando conhecer Maíra logo pensou em se aproveitar da jovialidade da moça, e acabou o fazendo. A viu, um dia, saindo do serviço e logo foi a seu encontro. Com cinco minutos de conversa ganhou a moça. Ela pensando que havia encontrado o homem dos seus sonhos, e ele louco de desejo. As palavras doces que ele lhe dirigiu nada mais foram do que a lábia de um cafajeste prestes a dar o bote. Dito e feito. Dois meses depois estavam namorando. Ela com ele, e ele com ela e mais umas cinco.
Algum tempo passou e um sentimento nasceu. Um carinho talvez. Maurício nunca foi de sentimentalismos e muito menos acreditava em amor. Já Maíra, coitada, passava horas lendo livros de romance e sonhando acordada. Seu marido significava a vida para ela. Ele a traía com tantas outras que não era possível nem enumerá-las.
Quando Maíra engravidou, porém, Maurício ficou bobo. Sabe-se lá o que aconteceu, mas o machão cedeu ao deleite da paternidade. Morria de amores cada vez que olhava para àquela barriga que crescia. Suas amantes? Foram todas deixadas de lado, viraram passado.
No aniversário de 10 anos de Aninha, a filha do casal, Maurício sumiu. Pobre Aninha. Caía em prantos cada vez que se lembrava do pai. Ele sempre foi muito amoroso com a menina.
Aninha cresceu num lar estável. O pai trabalhava das 8h às 18h todos os dias, a mãe ficava em casa cuidando da menina. A educação que lhe foi dada foi uma educação rígida, porém inundada de carinho.
Certo dia, Maíra abrira uma carta que fora endereçada a Maurício com o remetente em branco. Era sua ex-mulher. E foi assim que Maíra descobriu todo o passado do marido. A carta contava desde o dia do nascimento de Joaquim a seu último aniversário; contava ainda como o menino perguntava pelo pai e a não aceitação dele pelo padrasto.
Maurício teve uma reação agressiva quando soube que a esposa abrira tal carta. Um tapa certeiro na face de Maíra foi suficiente para demonstrar sua raiva. Ela calou-se diante de tal atitude. Maurício não se desculpou, porém ela o perdoou. O amor era tanto que ela não podia ver-se em crise com o esposo. Algum tempo após esse episódio, Maíra pediu ao marido que a apresentasse a Joaquim. Ele recusou e nunca mais tocaram no assunto.
Cinco dias após seu sumiço, Maurício telefonou à Maíra dizendo-lhe que nunca mais o procurasse. Chorando, a única coisa que ela conseguiu pronunciar foi que tinha sentimentos. Ele desligou o telefone sem maiores explicações.
Deste dia em diante Maíra começou uma busca desenfreada pela família abandonada de seu marido. Apesar de toda a sua covardia, ela resolveu lutar para descobrir os reais motivos de ambas as separações. Não conseguia viver abandonada e queria saber o porquê daquela mulher ter passado pelo que passou.
Idas e vindas não foram suficientes para que Maíra descobrisse o paradeiro de tal família. Um ano depois Maurício voltou para casa. Dez dias se passaram sem que nenhum dos dois pronunciasse uma palavra. Quando ele resolveu falar, foi pedindo que Maíra saísse de seu apartamento.
Mesmo morando na casa dos pais, a busca não cessou. Para Maíra, o único motivo plausível para que ela e o marido se separassem era esse – outra família. Porém nunca mais teve notícias de Maurício. A busca por essa outra família foi deixada em segundo plano no dia em que Aninha pediu, com os olhos cheios d’água, que a mãe parasse de viver em função dos outros e passasse a existir para si mesma.
Dois anos se passaram sem que Maíra sequer pensasse em Maurício e sua outra família. Dedicou-se inteiramente a Aninha. Certo dia, porém, sentiu um arrepio. Arrepio este que fez Maíra lembrar diretamente de seus fantasmas. Joaquim e sua família. As horas foram passando e nam sentiu um arrepio. Arrepio este que fez Maueaquim jamais conseguiu se livrar.aada tirava da cabeça de Maíra o pensamento fixo em Joaquim. Como queria conhecê-lo.
Neste mesmo dia o telefone tocou forte. Maíra realmente o conheceu. E isso foi no enterro do marido. Joaquim foi preso no velório de Maurício por ter se vingado de um pai ausente. Um tiro certeiro, e marcas de um passado que Joaquim e Maíra jamais conseguirão se livrar.

quarta-feira, 29 de abril de 2009

Mentira sócio-global

A seleção é a distinção que engana
Sociedade corrupta e sacana
Que insiste em escolher

Destruição em massa
Quem é fiel disfarça
E finge que não é

Espera
Espera que o tempo passa
E tudo que é feio passa também

Espera
Espera que o olho mente
E tudo que é fácil mente também

sexta-feira, 3 de abril de 2009

Massificado

A prática, apática, desrespeitou o poeta,
tranformou a palavra curva em linha reta.
As idéias se perderam
em pensamentos transitórios,
versos corriqueiros
se tornaram ilusórios.

segunda-feira, 16 de março de 2009

Frustração

Pensar sozinho
Correr de oposto
Paixão por gosto
Todo diferente

Planos

Querer cumpri-los
Em desacordo
Se o acordo
Só há na mente

Vontade

Paixão visível
Amor doente
O que cansa fere
E se faz presente

Paciência.

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

Alma

E se podes chorar, chora, porque a alma precisa declarar
E se gritas, não ouves o que dizes, por que muito ousas dizer sem pensar
E agora que pensas, cala-te diante do eco de sua voz muda
E guarda aquilo que sentes.

E sente.

E muito sente.

Até que estoura um pensamento rouco. Forte, mas rouco.
E, mesmo que por pouco, se deixa levar numa lágrima que corre manca
Ela que rola miúda logo se infla em companhia

E agora, depois de chorares, tua alma agradece
Pensa novamente, livre da pressão de uma dor que ainda dói.

quinta-feira, 8 de janeiro de 2009

Voz Muda

Passam carros e caminhões
E todo o resto continua parado
O que se vê pela janela perde a cor,
Mas não perde o brado
Movimento que grita louco
E todo o resto parece rouco
Natureza parada fala
Fala, fala e não diz nada
Grita comigo e pede o que tu queres
"Para movimento. Para e me percebe."